Pensando a respeito da vida e das coisas boas que temos, só posso realmente dar importância àquela maravilhosa característica que nos envolve através da consciência coletiva, desde jovens pueris até velhos remelentos, rabugentos e malvados, com suas bengalas nervosas agitando e cortando o fétido ar de suas salas impregnadas por seus charutos castrinos nojentos. Sentados no parque, derrubando suas bitucas, entre cuspes grossos de conhaque e tremoço, entoam coros contra jovens casais a explorar o amor encostados em qualquer muro, contra o governo, contra a previdência e a providência. Por outro lado, a transbordar astúcia e vivacidade. Depende. Depende do amargor. Pois sim, me refiro à "Singela Sagacidade do Ser".
O passar dos anos nos dá mais do que meios de defesa. Afia nossa perspicácia e acidez. Torna o fio do pensamento uma navalha. Que fatia tanto para a dor, quanto para o amor. Pobre desse último.
Obviamente a vida seria mais doce se tivéssemos pra sempre os olhos de criança, disse ao meu neto.
Quando se é jovem, tudo que se diz, vê, ou faz, tem um efeito perturbador. Quando se é mais esperto, tudo que se diz, vê, ou faz, tem um efeito perturbador; para os outros.
Minha bengala permanece nervosa, entre golpeios e cutucões nos tornozelos de pobres passantes, rio por dentro.
Entrei numa loja, de conveniência, e a mocinha me cumprimentou alegremente: - Bom dia, Senhor (...).
Desculpem-me. Não quero revelar meu nome. Gosto muito de sorvete; Mas gosto mais ainda, quando consigo sacar uma piada rápida para chacotear com chupadores alheios.
Dia desses aconteceu uma história fabulosa. Deixe-me contá-la: Comprei meu sorvete nessa loja. E comprei outro pra mocinha que me atendeu. E a mocinha entre gracejos e entregas de troco, me perguntou desgraçadamente: - O senhor está namorando? - Porque quer saber? - Porque acho que a pipa do vovô nao sobe mais. - Sim, estou. Respondi injuriado. Sorriu e me perguntou: - Gostaria de experimentar meu sorvete? Respondi que não. - Que bom mesmo. Senão ficaria baba da sua namoradinha. - Sim, ficaria um gosto azedinho no seu picolé.
Nesse momento, sua mãe entra na loja e me olha com um olhar doce e meigo. Olhei a pequena, que nesse momento havia entendido, e notei lágrimas nos seus olhos. Saquei um sorriso sádico e me virei. Fui embora com ar vitorioso. Sou velho mesmo. Minha resposta foi péssima. Mas o amor próprio vale isso. Preciso treinar mais meu lado de dentro. Minha "Singela Sagacidade do Ser".